A história de Gerson, um jovem de apenas 19 anos morto após invadir o recinto de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa, não pode ser reduzida a uma simples tragédia. Ela revela, com brutalidade, o retrato de um Brasil que ainda falha em proteger, diagnosticar e acolher aqueles que sofrem com transtornos mentais.
Gerson cresceu à margem, em vulnerabilidade extrema. Carregava cicatrizes que o mundo não via: separado da mãe uma mulher que enfrenta a esquizofrenia e nunca teve acompanhamento contínuo, ele passou toda a vida sem família, sem amparo emocional e, principalmente, sem diagnóstico e sem tratamento. Desde cedo, profissionais da rede de assistência social solicitaram avaliação psiquiátrica para o rapaz. Por anos, esses pedidos foram ignorados.
E enquanto o tratamento não vinha, veio o rótulo.
Veio a culpa.
Veio o preconceito.
Gerson, como tantos outros jovens em sofrimento mental, foi visto como “problema”, como caso de polícia, como alguém que “dava trabalho”. A dor dele foi interpretada como desobediência. A vulnerabilidade, como ameaça. O pedido de ajuda, como indisciplina.
Assim, o que poderia ter sido cuidado virou descaso.
O que poderia ter sido tratamento virou estatística.
A morte de Gerson não é culpa dele.
É consequência de um sistema que abandona, invisibiliza e desumaniza quem mais precisa.
E agora, diante de uma tragédia que poderia ter sido evitada, ficam as perguntas que o Brasil insiste em não responder:
Até quando vidas serão perdidas por falta de atendimento?
—Até quando jovens vulneráveis serão empurrados para o abismo, sem acompanhamento, sem acolhimento e sem esperança?
—Até quando a saúde mental será tratada como luxo e não como necessidade básica?
A história de Gerson deveria ser o último alerta.
Mas, infelizmente, sabemos que não será.
Enquanto o cuidado não for prioridade, continuaremos contando histórias como esta — histórias de jovens que não precisavam de julgamento, precisavam de cuidado.
REDAÇÃO: Daqui Do Cariri.
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